terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
O Médico e o Monstro
"Minha análise da alma, da psique humana, leva-me a crer que o ser humano não é verdadeiramente um, mas verdadeiramente dois. Um deles esforça-se para alcançar tudo que é nobre na vida. É o que chamamos de lado bom. O outro, quer expressar impulsos que prendam-no a obscuras relações animais com a terra. Esse é o que podemos chamar de mal. Ambos travam um eterno combate no íntimo da natureza humana, e contudo, estão atados um ao outro. E este elo provoca a repressão ao mau e remorsos no bom. Agora, se esses dois seres pudessem ser separados um do outro, quão livre o bom em nós poderia ser, que alturas poderia alcançar! E o assim chamado mal, uma vez liberto, buscaria sua própria realização, e deixaria de nos perturbar..."
Dr. Jekyll
Os verdadeiros clássicos sempre sobrevivem através dos tempos por um motivo. Vampiros, Mortos-Vivos, entre outros elementos comuns ao gênero de terror são usados à exaustão porque o público se interessa por esses temas. Não porque acreditam que isso possa ser verdade, mas porque esses elementos trazem à tona medos inconscientes e despertam nossos desejos, nossas fobias e preocupações irracionais que nem nós mesmos entendemos. É fácil entender, no entanto, o fascínio que alguns temas inerentes do terror provoca. Por exemplo: independente de crença, todo ser humano se pergunta – e se preocupa – com o que vem depois da morte. Como nunca ninguém (supostamente) voltou para contar como é, o interesse das pessoas pela morte é bastante justificável. Outro tema que interessa bastante as pessoas, são os conceitos envolvendo o bem e o mal. De onde vem? As pessoas nascem boas e depois se tornam más? Existem pessoas que nascem más? O Mal e o bem são características genéticas, sociais ou vem de algo muito maior que nós e que não podemos explicar? É justamente o conceito de bem e mal que é explorado em O Médico e o Monstro.
Conceituado médico, Dr. Jekyll vem se comportando de maneira estranha, chamando atenção de seus empregados e amigos. Cada vez mais isolado em seu laboratório, Jekyll começa a preocupar Mr. Utterson, advogado e amigo do médico, principalmente quando de posse de seu intrigante testamento. Enquanto isso, na cidade, um sujeito curioso e de atitudes bizarras parece causando estrago e aterrorizando pessoas locais com suas atitudes bruscas e embrutecidas. Mr. Utterson suspeita do envolvimento de seu amigo com o estranho forasteiro, e não concorda com tamanha benevolência com que Dr. Jekyll vem tratando esse intrigante rapaz, chamado de Mr. Hyde. O caso fica ainda mais complicada com a morte de Sir Davens, um ilustre membro do parlamento londrino. As suspeitas recaem sobre Mr. Hyde, que é visto entrando diversas vezes no domicílio de Jekyll, e inclusive carrega um cheque em nome do médico. Achando o caso deveras intrigante, e temendo pela vida de seu amigo, Mr. Utterson decide tirar a limpo essa história e vai até a residência do doutor, em busca de explicações. No final, Dr. Jekyll revela ao amigo que na realidade ele e Mr. Hyde eram um só, terrível resultado de uma experiência realizada em seu laboratório. Ao tomar a fórmula ele próprio, Dr. Jekyll se dissociou em dois: um de personalidade amável (o próprio médico) e outro de personalidade essencialmente má (Mr. Hyde). Cada vez mais fraco, Jekyll não consegue lutar contra o jovem e audaz Hyde, que começa a tomar cada vez mais conta do seu corpo e teme por sua própria morte.
Escrito em 1886 pelo escritor escocês Robert Louis Stevenson, o livro “The Strange Case of Doctor Jekyll and Mister Hyde” fez foi um estrondoso sucesso ao tratar da dualidade humana e da possibilidade de podermos nos livrar de nossas amarras morais. Além disso, a história também trata de outra questão interessante, que é a isenção de responsabilidade. Era muito comum no passado (e na verdade hoje em dia também) colocar a culpa do que se faz em algo além de sua vontade, como demônios sussurrando no ouvido, “ter nascido assim”, entre outras coisas. É comum ao ser humano ser incapaz de assumir que é capaz de grande mal – ou de grande bem, então dizer que “deus quis assim” ou “o diabo me fez fazer isso” sempre foram formas do ser humano se isentar da responsabilidade sobre o que faz. Em O médico e o Monstro, vemos exatamente isso: Dr Jekyll quer, na verdade, se livrar da responsabilidade de seus atos, dissociando seu lado mal do bom, na esperança de que não haja peso em sua consciência quando Hyde fizesse alguma coisa, afinal, “não seria ele” quem estaria fazendo.
Esse é um dos vários motivos pelos quais O Médico e o Monstro é uma obra atemporal e que merece ser lida, não só por fãs do gênero de Terror, mas por amantes da literatura em geral.uarevaa.com
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